*Artur Marques da Silva Filho

Os profissionais da saúde e, particularmente, a profissão do médico se dedicam à preservação vida. São as únicas que no seu dia a dia deparam-se com o reverso imantado nela, que é a morte. Essa proximidade com a fatalidade do sem dia e sem hora exalta sua dedicação.

Se as profissões devem ser celebradas, hoje essa celebração é dedicada aos profissionais da saúde. Isso porque, o Hospital do Servidor Público de São Paulo completa, nesse mês de julho, 63 anos de idade. É um patrimônio que foi erguido para atender à laboriosa comunidade dos servidores do Estado, mas que vagarosamente se constituiu num patrimônio-médico-científico, que orgulha a medicina brasileira e nela a Saúde Pública do país.

Sabe-se que essa trajetória não foi calma na sua evolução. Foram homens e mulheres, ligados a todos os setores do Hospital, que se formaram como obreiros dessa construção majestosa, que só não foi maior porque nem todos os governantes definiram claramente que desejavam um maior sucesso dessa comunidade hospitalar e cientifica. E, principalmente, com as indefinições alimentadas materialmente pela redução de recursos. Se houve tempo de esperança, houve e há forte indignação, pois, direta e indiretamente o Hospital é cercado de dificuldades, que refletem a fonte delas, a política governamental que não valoriza o servidor. Aliás, e até o expõe como bode expiatório do suposto excesso de gastos públicos em relação aos quais é considerado sagrado e reservado, ou seja, pagamento dos juros das dívidas públicas. A valorização da democracia, já que a saúde pública é o direito pessoal e coletivo que ela reconhece e garante pela Constituição de 1988, o desprezo orquestrado da desvalorização ataca a dignidade de servidores e não servidores.
 
Se esse espaço hospitalar tem assim os problemas que enfrentamos, precisamos, mais do que reforçar nossa consciência, agora utilizando exemplo de tempo integral e gramática longínqua de vida dedicada à saúde pública do Brasil.

Esse nome é o de José da Silva Guedes, professor, sanitarista, ex- Secretário da Saúde do Estado de São Paulo, no governo de Franco Montoro, depois de ter sido Secretário da Saúde do Município de São Paulo. Ele morreu recentemente. Se como sanitarista formado pela Universidade de São Paulo expressava sua formação humanista focada na saúde do povo paulista e brasileiro, sua Secretaria revelou a preocupação do governo com o bem-estar da população, na faceta do natural respeito, que aquele governo com sua filosofia valorizava os servidores públicos. E, nessa medida, valorizar o servidor reflete o culto à dignidade da pessoa humana. Guedes deixa suas digitais não só no apoio forte e incondicional ao SUS, conquista social inovadora da Constituição, mas particularmente ele é responsável pelo legado herdado pelo Hospital da Santa Casa de São Paulo, sendo que depois foi para o Hospital das Clínicas e para o Hospital São Paulo. Professor de Epidemiologia, pode presenciar o nascimento do Centro de Saúde da Barra Funda.

Ilustra essa biografia o Projeto que organizou a Saúde Pública da Zona Norte de São Paulo, na parceria do Hospital Mandaqui com a Santa Casa de São Paulo, no governo Montoro, quando foi Supervisora Materno-Infantil nossa amiga e conselheira Dra. Helena Niskier.

Como Presidente da Associação dos Servidores Públicos não poderia render-me ao silêncio, diante dessa história que enaltece os servidores públicos e a saúde pública do Brasil.

*Artur Marques da Silva Filho é Presidente da Associação dos Funcionários Públicos do Estado de São Paulo (AFPESP)
 

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